A técnica, que chegou ao Brasil no início dos anos 2000, é utilizada para diferentes doenças neurológicas e psiquiátricas.
Foi na década de 1990 que o Doutor Nasser Allam teve o primeiro contato com a Estimulação Magnética Transcraniana. O neurologista, que é um dos pioneiros em EMT, no Brasil, conheceu a técnica na Universidade de Barcelona, quando ainda era utilizada para pesquisa.
A aplicabilidade clínica da EMT teve início em 1995, quando a depressão foi o primeiro transtorno a ser pesquisado. De lá para cá, houve um longo e surpreendente caminho percorrido, que abriu novas possibilidades para o tratamento de diferentes distúrbios neurológicos e psiquiátricos. Em entrevista ao site da NA Neurologistas Associados, o Doutor Nasser Allam explica como a técnica chegou ao Brasil, no começo do século XXI: “A Estimulação Magnética Transcraniana chegou ao país entre 2002 e 2003. Em Brasília, fui o pioneiro a introduzir a EMT. Na época, em conjunto com o Professor Joaquim Pereira Brasil Neto, começamos a atender no Centro de Investigações Neurológicas, uma clínica anterior à NA Neurologistas. Nessa década, compramos o primeiro equipamento da capital federal e nos aprofundamos nas pesquisas. Com o passar do tempo, fiquei cada vez mais interessado pelo tema, já que percebi que era possível usar a EMT em diversas e diferentes aplicações. A primeira aplicabilidade foi para depressão, no entanto, hoje, na área de psiquiatria, podemos tratar, além dela, o TOC, Transtorno Obsessivo – Compulsivo, ansiedade, resgate rápido de pacientes com risco de suicídio; sintoma negativo de esquizofrenia e alucinações auditivas”.
Nasser Allam ressalta que a utilização da Estimulação Magnética Transcraniana continua sendo um vasto campo para pesquisas: “Anualmente cresce o número de trabalhos e pesquisas com a EMT. Hoje, além dos distúrbios psiquiátricos, também a utilizamos para problemas neurológicos, como doença de Parkinson, principalmente, para os sintomas não motores muito comuns na doença, como a depressão acentuada, declínio cognitivo, perda significativa de memória e disfagia, que é a dificuldade para engolir. Inclusive, quando a técnica é utilizada em conjunto com o tratamento fonoaudiológico, os resultados são extremamente interessantes e animadores. Também já utilizamos esse protocolo, com sucesso em muitos casos, para dor crônica, fibromialgia, dor neuropática, AVC e algumas formas de enxaqueca”, completa.
Além disso, a EMT é uma possibilidade para lidar com patologias que não respondem ao tratamento medicamentoso, casos dos Parkinsonismos atípicos e da doença de Huntington. Também é uma opção cada vez mais utilizada em pacientes que demonstram resistência aos antidepressivos, ou, sofrem com efeitos colaterais intensos, conforme explica Nasser Allam: “Existe uma parcela da população que não responde ao tratamento com medicamentos, mais de 30% dos pacientes com depressão não são responsivos aos remédios tradicionais. Às vezes, ele responde por um determinado tempo, depois, não responde mais. Para esses casos de não resposta, ou, se o resultado é muito pobre, ou, ainda, se o paciente não tolera a medicação e os efeitos colaterais, a EMT é uma opção extremamente interessante”. E, como funciona a Estimulação Magnética?
De acordo com o Doutor Nasser, o equipamento, criado especificamente para essa função gera um campo eletromagnético que é direcionado, pelo médico especialista, para inibir ou estimular, de acordo com as necessidades do paciente, áreas do cérebro: “A grosso modo, a EMT funciona através de um equipamento, ligado a uma bobina que gera uma corrente elétrica muito potente. Nessa bobina, essa corrente é transformada em um campo magnético, capaz de atravessar as camadas de pele e a caixa craniana de forma indolor. Esse campo magnético é capaz de induzir nos neurônios uma atividade elétrica no córtex cerebral e esses neurônios, sendo estimulados, começam a se reconectar e responderem novamente” e completa: “Temos pacientes que às vezes, com duas sessões já sentem as mudanças. Aquela ativação cerebral que foi impulsionada durante a sessão continua, mesmo após o fim das sessões. Os neurônios vão se interligando, e, em geral, dentro de 7 a 10 dias, já temos uma resposta bem interessante”.
Como a Estimulação Elétrica Transcraniana e a Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua, ETCC, outra técnica que pode ser utilizada pelo mesmo equipamento, não tem contraindicações, crianças também podem se beneficiar delas, como em casos de autismo, transtornos de déficit de atenção e hiperatividade, paralisia cerebral e alterações na fala.